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  • Foto do escritorVladimir Silva

Jovens tardes de domingo

Atualizado: 12 de jan.

Fim de semana, na minha infância, era sinônimo de muita música. Todos os sábados, eu e meus amigos passávamos a tarde tocando flauta e violão. Empolgados, não sentíamos o tempo passar e só quando ouvíamos o badalar do sino da Capela João Moura, avisando que a missa das cinco estava para começar, que decidíamos parar. Eu saia às pressas, correndo ao encontro da minha tia-avó, Maria Ferreira, para juntos seguirmos até a igreja. Durante a celebração, esperava com certa ansiedade a hora dos cânticos, que eram anunciados nos primeiros acordes do pequeno e nasalado harmônio, um órgão de fole que Irmã Aldete, a madre superiora, dominava com maestria. Maria se orgulhava quando me (ou)via cantando com empolgação.


No domingo pela manhã, eu sempre acordava cedo para ouvir a Campina FM e o programa Clássicos Eternos, apresentado por Hilton Mota. A temática era variada, o que me permitia conhecer gradualmente a literatura musical de diferentes períodos, autores e estilos, o que só aumentava o meu interesse pela música. Eu nem imaginava que, anos mais tarde, seria o produtor e apresentador desse mesmo programa. Em casa, após o almoço, nos divertíamos, eu e a minha irmã mais velha, com o programa Qual é a música?, no qual Sílvio Santos desafiava os participantes com uma gincana musical.


Meu pai também gostava desse jogo. Contudo, preferia ouvir suas músicas, especialmente depois que adquiriu um “três-em-um”, o aparelho de som mais moderno da época e no qual era possível ler e gravar fitas cassete, sintonizar rádio AM e FM e escutar discos de vinil. Comumente, ele colocava na bandeja Gal TropicalAve de Prata, o primeiro trabalho que Elba Ramalho gravou, e a Arte de Chico Buarque, que ouvíamos deitados no chão duro, frio e de cimento avermelhado, porém aconchegante, da sala da nossa casa. Curiosamente, meu irmão caçula gostava de ouvir Chico Buarque cantando Minha história (Gesubambino) e falando da pobre mulher que, por não se lembrar de acalantos, ninava o filho pequeno com cantigas de cabaré. E ele sorria e pedia para meu pai repetir várias vezes aquele laiá, laiá.


Anos depois, já no início da adolescência, no fim da tarde, quando no alto da Rua das Imbiras os portões da AABB se abriam, avisando que a matinê estava encerrando, corríamos para aproveitar o que restava da festa. Enquanto meus amigos se dirigiam para o salão, eu me apressava para ficar na lateral do palco, vendo e ouvindo os artistas, grupos que (en)cantavam, como, por exemplo, os Vikings, Som Livre, Ogírio Cavalcante e Trepidants. Hoje é domingo e, ao ouvir a canção de Roberto Carlos na voz de Gal Costa, com saudade lembrei-me daquelas jovens tardes, tantas alegrias, velhos tempos, belos dias.


Vladimir Silva



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