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Foto do escritorVladimir Silva

A alta performance no canto coral brasileiro

Atualizado: 12 de jan.

Nelson Mathias e Célia Bretanha dirigiram o Coral do SESI, em Brasília, nos anos setenta, e gravaram um LP em 16 canais, na RCA, no Rio de Janeiro, com direção artística de Carlos Guarany. O álbum contém nove faixas, todas dedicadas à música brasileira, incluindo Saia bonita (Baião - Carlos Alberto Pinto Fonseca), Suíte dos pescadores (Dorival Caymmi - Damiano Cozzella), Beira mar (Tema afro-brasileiro - Esther Scliar), Rolinha (Chula marajoara - Waldemar Henrique), Cromo (Kindemiro Teixeira - Pedro S. de Amorim - Nivaldo Santiago), Ofulú Lorêrê (Osvaldo Lacerda), Cambinda elefante (Maracatu - Ernst Mahle), Construção (Chico Buarque - Damiano Cozzella) e Carnaval I (Vários autores - Damiano Cozzella).


A interpretação do coro é exemplar em muitos aspectos. O grupo canta no tempo, afinado, com técnica e expressão. Destaco tudo isso porque o disco foi gravado em 1975, numa época em que não existiam esses produtos mágicos que muitos usam em estúdio atualmente para afinar ou duplicar vozes. Ali não há maquiagem. A sonoridade desse coro assemelha-se àquela do Coral da UFPB, Campus II, Campina Grande, que os dois também dirigiram entre 1978 e 1982, ratificando que a identidade de um ensemble é definida pelos seus dirigentes. A comparação pode ser observada no texto/vídeo Um som inconfundível.


A qualidade dos arranjos é outro ponto que chama a atenção, sobretudo aqueles escritos por Damiano Cozzella e que são interpretados com a orquestração original. Construção e Carnaval I são pérolas, especialmente por conta das madeiras e dos metais. Já a Suíte dos Pescadores inclui um quinteto de cordas, que pouca gente conhece e que toca, a maior parte do tempo, colla voce. Na verdade, pode-se dizer que este acompanhamento é non obbligato, razão pela qual comumente se executa a versão a cappella. Não obstante, compartilharei uma versão completa desse arranjo brevemente para que todos possam conhecê-lo e quem sabe interpretá-lo.


Henrique Morelebaum, Marlos Nobre e Alberto Jafé assinam a apresentação desta preciosidade. Este último, inclusive, destaca a prevalência do uníssono e a beleza da homogeneidade, que ultimamente certas linhas de pensamento tentam refutar e considerar démodé equivocadamente e com argumentos dúbios. A unidade é tudo na prática de conjunto, seja num trio de forró, coro ou orquestra. Esses mestres exemplificam o que é excelência, o que é gravar sem Auto-Tune, sem placebos cênicos ou excessiva voz de peito em nome de uma brasilidade ou livre auto-expressão duvidosas. Eles nos mostram que, sim, é possível cantar qualquer repertório com qualidade com um coral formado por gente comum, “50 figurantes, moças e rapazes, filhos dos operários das indústrias e trabalhadores”, como foi o caso do Coral do SESI, da Capital Federal (ouça a playlist). Nelson Mathias e Célia Bretanha, em outros termos, nos ensinam o que é a alta performance no canto coral brasileiro.


Vladimir Silva




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