domingo, 14 de junho de 2020

O Canto Coral na Paraíba: Pedro Marinho de Oliveira

Pedro Marinho de Oliveira (Princesa Isabel-PB, 1917 - ?) estudou música, durante as primeiras décadas de vida, em sua terra natal, Recife e João Pessoa, cidade na qual ingressou como músico no 22º Batalhão de Caçadores (atualmente o 15º BIMtz), em 1935, época em que também foi orientado por Gazzi de Sá. Posteriormente, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou harmonia, contraponto e fuga, provavelmente no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico. Antes, porém, trabalhou como professor e regente na cidade de Patos, sertão paraibano. Registros indicam a presença dele na Filarmônica 26 de julho, por volta de 1940. Em seu currículo consta ainda um período de formação na University of Chicago.

No primeiro Congresso de Música do Nordeste, promovido pela Sociedade de Cultura Musical, em 1949, Pedro Marinho falou sobre a técnica musical nas composições de Wagner. Em 1966, escreveu a Missa em Aboio, certamente sua obra mais conhecida e que foi estreada neste mesmo ano no Festival de Música Sacra realizado em Paty dos Alferes, Rio de Janeiro, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno. O Ars Nova, Coral da UFMG, regido por Carlos Alberto Pinto Fonseca, interpretou-a nesta primeira audição mundial. A missa, para coro misto a cappella, segue, de certo modo, as diretrizes do Concílio Vaticano II, dialogando com os elementos da cultura tradicional da região, incluindo os aboios, as cantigas de cego, o modalismo. As síncopes asseguram a vivacidade rítmica da peça, que foi gravada pelo referido coro numa produção do selo Festa (LDR 5029, 1966 - ouça).

A produção composicional de Pedro Marinho é diversificada e inclui obras instrumentais e vocais para diferentes formações. Em 2011, ouvi seu Romance, interpretado pela Orquestra de Câmara de João Pessoa, sob a direção de Carlos Anísio, no Festival Internacional de Música de Campina Grande. No ano seguinte, inseri a Missa em Aboio no repertório do Coro de Câmara de Campina Grande, apresentando-a nos estados do Mississippi, Louisiana e Alabama, nos EUA.

Como docente, trabalhou em várias instituições, a exemplo da Universidade de Goiás. O jornalista Pedro Marinho, xará do compositor, comenta num artigo publicado no jornal A União, em 2011, que entre 1995 e 1996 ele estava morando em Carpina-PE, ocasião na qual escrevera para Domingos de Azevedo lamentando o fato de ser “músico exaltado no Sul do Brasil, Estados Unidos, Europa e segregado na Paraíba.” Desconheço o paradeiro das suas peças, bem como estudos sobre sua vida e composições, que precisam ser encontradas, editadas, analisadas e divulgadas, aqui e no exterior, voltando às salas de concertos, mudando a triste realidade relatada por ele há mais de duas décadas. Esse é mais um desafio para a preservação da nossa memória e uma forma de assegurar-lhe um lugar merecido na história.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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