sábado, 6 de junho de 2020

Cordas e Sopros

A criação do Núcleo de Extensão Cultural (NEC), no Campus II da Universidade Federal da Paraíba, no final da década de setenta, trouxe para Campina Grande vários profissionais, todos contratados com o objetivo de desenvolver projetos educacionais e artísticos na instituição, a exemplo do Quarteto Telemann. Se em sua formação inicial o grupo dedicou-se à interpretação das coleções renascentistas e barrocas, contando apenas com um consorte de flautas doces, posteriormente ele voltou-se para a investigação da literatura nacional, acrescentando à sua constituição básica o violão e o violoncelo, razão pela qual passou a chamar-se Cordas e Sopros.

Além dos fundadores Romero Ricardo Damião de Araújo, Carlos Alan Peres da Silva, Ricardo César e Francisco de Assis Cunha Metri, outros músicos, a exemplo de Edilson Eulálio Cabral, Fernando Rangel e Eli-Eri Moura, integraram esse seleto time de intérpretes. Além disso, a análise das partituras revela que os dois últimos, ao lado de Antônio José Madureira e José Euclides dos Santos, assinaram os arranjos e composições que integraram o acervo do ensemble.

A Universidade Federal de Campina Grande lançou em 2013 uma série intitulada Cadernos de Música da UFCG (PDF), cujo primeiro volume foi dedicado ao resgate dessa proposta. Na coletânea, organizada por um dos ex-integrantes, Carlos Silva, relata-se que “foram arranjadas as músicas tipicamente nordestinas, redescobriram-se modinhas, choros, maxixes; nomes da música brasileira foram pesquisados e suas músicas arranjadas; músicas inéditas foram compostas por especialistas da região visando à formação instrumental do grupo.” As obras contidas neste livro constituíam o repertório básico interpretado em festivais, congressos, programas de TV e os mais diversos eventos. A seleção contempla arranjos de canções tradicionais e populares (Mulher rendeira, Nesta Rua, O cravo, Assum preto, Tico-Tico no fubá e Brejeiro), adaptações (Segunda Valsa de Esquina, Francisco Mignone), bem como peças inéditas (Primeiro choro para flautasFantasia sobre Asa Branca e Bartokiando). Um dos documentos fonográficos mais antigos é o que está no LP Autores e Intérpretes, produzido pela UFPB em 1984, e que foi digitalizado recentemente (áudio). Em 2015, Ralmon Sousa dirigiu a gravação da coletânea completa como parte de uma pesquisa igualmente realizada na UFCG, no âmbito do Bacharelado - Produção Musical. Na ocasião, participaram alunos da graduação de diferentes áreas (áudio).

O conjunto Cordas e Sopros teve um papel importante na divulgação da literatura para flauta doce, violão e violoncelo, valorizando nosso patrimônio com uma abordagem original. A proposta foi bem recebida pelo público e a crítica, atraindo jovens para o estudo da flauta doce, no âmbito da universidade. Eu, particularmente, tive a feliz oportunidade de iniciar meus estudos musicais no ano do lançamento do disco supracitado, sob a orientação do professor Alan Peres. É esse, portanto, o meu pedigree artístico-musical.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

2 comentários:

Ralmon Sousa disse...

Dr. Vladimir Muito bom, Show!!!

Brunno Barroco disse...

Muito bom, um registro histórico importante. Senti falta do comentário da nova geração

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