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O Toré dos Caboclos e dos Mestres, de Antônio Carlos Batista Pinto Coelho (Tom K), é dedicado a Pedro Santos. A obra, escrita para coro a cappella em 1996, é inspirada num ritual de culto da jurema, realizado na cidade de Alhandra-PB, e que reúne vários caboclos, entre iniciantes e iniciados, e vários mestres, que detêm o conhecimento do ritual, que vai desde os cantos de chamamentos, momento em que os caboclos baixam no terreiro e os mestres incorporam, até os momentos de cura e bênçãos. Neste rito, bebe-se um vinho feito da planta jurema, que também é uma cabocla e uma região encantada do espaço.
Sob a perspectiva musical, o Toré está organizado em nove seções, assim dispostas: 1) Já vem abrindo os caminhos; 2) Salve a jurema na terra; 3) Arreia Caboclo; 4) Na jurema tem; 5) Interlúdio modulante; 6) Coda; 7) Oh! Jurema preta; 8) Mamãe Totonha; e 9) Sultão das matas. A peça começa e termina em Fá maior, indo para Dó maior e, depois, Sol maior, no sétimo e oitavo movimentos, respectivamente. Os cânticos utilizados como base composicional foram recolhidos por um antropólogo francês, Renné Vandézane, e foram transcritos para partitura pelo professor Reginaldo Salvador de Alcântara. O compositor, ao falar da sua criação, assim diz: “Eu usei uma parte dos cantos e os trabalhei na forma de um culto com a saudação inicial, o chamamento dos caboclos, a chegada dos caboclos, a cura e a benção. Eu termino com o ponto dos caboclos, sultão das matas, que não pertence ao culto da Jurema. Trabalho com ritmos e melodias originais; uso harmonias simples e a forma responsorial e antifonal; na partitura não consta dinâmica nem agógica nem indicação de andamentos, mas, quando ensaio, uso tudo que tenho direito, contudo eu sempre espero uma parceria com o intérprete, não apenas nessa obra mas em quase tudo que faço!”
O Toré é vívido e dançante. As eventuais divisões nos naipes, assim como as passagens cromáticas, reiteram os aspectos expressivos e simbólicos da narrativa músico-textual. Tom K, nesta composição, trata de dois elementos sagrados, o toré e a jurema, marcadores nativos que indicam, afirmam e delimitam a presença indígena na sociedade brasileira, conforme afirma o pesquisador Rodrigo de Azeredo Grünewald.
Recentemente, participei com José Maurício Valle Brandão (UFBA) do V Simpósio Internacional de Investigação em Arte, cujo tema foi o Diálogo Intercultural e Ecumênico Através da Arte, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro (UTAD), em Portugal. Na ocasião, discutimos vários aspectos do toré na literatura coral brasileira (livro - artigo), destacando a peça de Tom K, que nos autorizou a divulgar a partitura (PDF) e o áudio da gravação que ele fez com o Coro de Câmara Villa-Lobos, de João Pessoa, em 1998 (veja).
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
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