Tenho muitos casos
para contar sobre o Festival Internacional de Música de Campina Grande. São
histórias de bastidores que, depois de superadas, nos fazem sorrir. Certa
feita, um convidado que sairia do aeroporto de San José, na Costa Rica (SJO),
foi informado, na hora do embarque, que seu bilhete fora emitido para uma
localidade homônima, na Califórnia (SJC), Estados Unidos. A partir de então, passei a conferir todas as
passagens pessoalmente, razão pela qual tenho me especializado em códigos IATA.
No ano em que apresentamos o Réquiem para um Trombone, de Eli-Eri
Moura, escrito em homenagem a Radegundis Feitosa, esperávamos um grande
público, que, de fato, veio nos prestigiar em massa. Com a casa lotada,
iniciamos a récita. Ainda nos primeiros compassos, percebi uma inquietação,
ouvi ruídos vindo de uma das portas laterais do Municipal. Posteriormente,
fiquei sabendo que uma turba queria entrar no Severino Cabral, tendo sido
impedida pois já havia gente por todo lado. Invejosos dirão que é exagero ou
mentira. Mas, é verdade, eu estava lá, testemunhei o ocorrido e vi com esses
olhos, que àquela época enxergavam tudo mais nitidamente, o dia em que a
polícia saiu às ruas para dispersar uma multidão sedenta por música de concerto,
na cidade d’O Maior São João do Mundo.
Chico do Piano, esse velho conhecido do FIMUS,
também já alimentou nosso banco de fatos pitorescos. Há muito tempo ele
colabora conosco, seja alugando os seus instrumentos, seja fazendo a manutenção
dos nossos. Eu não lembro em qual edição isso aconteceu, mas, sem combinar
nada, ele trouxe um piano branco, que eu não aceitei, porque o considerei
inadequado para o contexto. Alguns colegas não viam problema em usá-lo, tendo
em vista que era um Yamaha, meia cauda, seminovo. Rejeitei a proposta, pois não
queria dar munição para os críticos de plantão, que, como sabem, não são poucos e poderiam perguntar maliciosamente se Richard Clayderman também iria
apresentar-se no Festival, naquele ano. Pode até parecer revanchismo, e já me
desculpo pelo trocadilho, mas, daquele ponto em diante, ficou decretado que no
palco só subiriam pretos (pianos, para ser mais claro).
Quando montamos o Gloria, de John Rutter, o coro tinha quase uma centena de coralistas.
Ocorre que, quanto mais gente, mais trabalho. No dia do concerto, após o ensaio
geral, tentamos coreografar a entrada e a saída dos cantores e músicos. Por
conta da quantidade de pessoas, tivemos que repetir o procedimento várias
vezes, sem sucesso. O protocolo só andou, de fato, quando eu, em alto e bom
som, expressei veementemente como devíamos agir. Outro dia, comentaram que, nas
noites mais silenciosas, ouve-se no palco daquela casa de espetáculos um certo... pariu... riu... riu... riu... Dizem que é a minha voz, que, desde
aquele dia, ainda ecoa por lá.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Veja também: Um piano para Campina; VIII FIMUS e I FIMUS Jazz; Cantando a história do FIMUS; EuroFIMUS; Forró Jazz-Sinfônico; Ano Jackson do Pandeiro; De mãos dadas, ao redor do Teatro; O Festival do Sesquicentenário; e Uma cidade em festa;
domingo, 24 de maio de 2020
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Quem sou eu

- Vladimir Silva
- Sou paraibano, natural de Campina Grande. Fui seduzido pela arte, pela música e pela literatura há muito tempo. Atualmente, leciono no curso de música da UFCG. Sempre estou aqui e acolá, regendo e cantando, ensinando e aprendendo, ouvindo e contando histórias. Meu perfil profissional completo pode ser acessado na Plataforma Lattes (CNPq): http://lattes.cnpq.br/5912072788725094

2 comentários:
Eita... Me lembro muito bem do piano branco!!!
Aaaahhhh.....perdi todas estas emoções....haha
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