O
Grupo Anima, criado em meados de 1985 pela flautista cearense Sandra Albano,
dedicou-se em sua fase inicial à interpretação do repertório renascentista e
barroco para flautas doces. Além da fundadora, integraram as primeiras
formações Helena Rodrigues, Eli-Eri Moura, Marisa Nóbrega, Déa Santos, Luciênio
Macedo, Roderick Fonseca, Didier Guigue, dentre outros. Foi com essa proposta
que realizou o Circuito de Música Antiga, apresentando-se em várias cidades do
interior do estado, em Natal, Fortaleza e Maceió, bem como em Porto Alegre,
onde participou do 3º Festival Internacional de Coros.
Posteriormente,
já em novo formato e sob a direção de Eli-Eri Moura, tive a oportunidade de
conhecer o trabalho do consorte em 1986, durante o III Festival Nordestino de
Corais, em Campina Grande. Digitalizamos o áudio que foi gravado ao vivo nesta ocasião, em fita K-7, e produzimos uma animação (veja aqui). Na ocasião, apresentaram-se combinando vozes e
instrumentos na execução de clássicos extraídos dos cancioneiros ibéricos,
muito embora os espetáculos fossem mais complexos, abarcando também números de
dança com os bailarinos do Ballet Espaço. A presença do Anima na Serra da
Borborema nos fez entrar em contato com uma literatura específica, interpretada
com propriedade e que chamou a atenção do público. A seleção e a sequência das
peças nos permitiram ouvir canções lentas e rápidas, o diálogo entre solistas e
tutti, ressaltando os elementos
poéticos essenciais à compreensão da diversidade temática que aqueles textos
abarcavam, alguns mais líricos e solenes, outros mais irônicos e com duplo
sentido. Foi uma aula inspiradora.
Na sua terceira fase, o agrupamento dedicou-se à música
brasileira, focando em criações inéditas, como, por exemplo, a Missa Breve,
para solista, coro e quarteto de madeiras, e a opereta Os reis simultâneos,
ambas frutos da parceira Moura-Solha. Obras seletas da MPB também foram
incorporadas ao Anima, que também fez a estreia da Misa Criolla, de Ariel Ramirez, na Paraíba.
Em
1989, porque Eli-Eri Moura foi para o Canadá, passei a coordenar a equipe, que
recebeu novos integrantes e ampliou o repertório. Participamos de vários
eventos, incluindo o 5º Encontro Sergipano de Corais, em Aracaju. Infelizmente,
por uma série de razões, nossas atividades foram interrompidas naquele mesmo
ano. Contudo, o ciclo da vida, que tudo renova, fez brotar, há poucos anos, o
IAMAKÁ, sob a liderança de Eli-Eri Moura, que segue, resguardadas as devidas
proporções, a mesma linha da música de câmara produzida pelo Anima, nos anos
oitenta. Acompanhar e reger esse conjunto foi relevante para a consolidação da
minha carreira musical. À semelhança das iniciativas do professor José Alberto
Kaplan e do maestro Carlos Veiga, que também se dedicaram à música antiga com o
Collegium Musicum e o Pró-Música, na capital paraibana, o Anima é uma
referência na história do canto coral estadual, pela excelência da sua proposta
estética, artística e musical.
Vladimir
Silva (silvladimir@gmail.com)
sexta-feira, 15 de maio de 2020
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Quem sou eu

- Vladimir Silva
- Sou paraibano, natural de Campina Grande. Fui seduzido pela arte, pela música e pela literatura há muito tempo. Atualmente, leciono nos cursos de graduação e pós-graduação em Música da UFCG e da UFPB. Sempre estou aqui e acolá, regendo e cantando, ensinando e aprendendo, ouvindo e contando histórias. Meu perfil profissional completo pode ser acessado na Plataforma Lattes (CNPq): http://lattes.cnpq.br/5912072788725094
Um comentário:
Maravilhoso trabalho de pesquisa, de coleção e de acervo que você está fazendo com o seu grupo na UFCG. A difusão desses resultados dão outros voos para a memória musical da Paraíba. Como enteada do maestro Kaplan e filha de Márcia Kaplan, deixo aqui meu agradecimento e apoio ao resgate dessa história maravilhosa, a valorização da nossa música e do trabalho de tantos artistas.
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