Comecei a frequentar os cursos de extensão do
Departamento de Artes da UFPB, Campus II, em 1984, nas dependências do Teatro
Municipal Severino Cabral. Ali, além de estudar de forma sistemática, conheci
aqueles que foram as bases do meu fazer musical: Carlos Alan (Flauta Doce),
Fernando Rangel (Teoria e Solfejo) e Fernando Barbosa (História da Música).
Semanalmente, tínhamos dois encontros nos quais ocorriam as aulas de
instrumento, matérias teóricas e prática de conjunto, atividade que congregava
todos os alunos, muitos dos quais são meus amigos até hoje.
Eu estava tão motivado que, já no primeiro
ano do curso, aprendi a tocar as flautas sopranino, soprano, contralto, tenor e
baixo, razão pela qual fui convidado para participar de um quarteto,
que ensaiava regularmente. Naqueles encontros, em que não víamos a hora passar,
na companhia do meu professor, Romero Damião, Francisco Metri e Marconi
Siqueira, executávamos os cadernos com peças polifônicas editadas por Pierre
Phalèse, Pierre Attaingnant e muita música brasileira, heranças do repertório
do Cordas e Sopros. A sonoridade
modal e contrapontística me invadia, me transportava para uma época-lugar que
eu ainda não (re)conhecera mas que me era profundamente íntima, que me falava
diretamente à mente, ao corpo, ao coração. Essa relação com o mundo renascentista
acentuou-se à medida em que passei a cantar o repertório francês do século
dezesseis. Extasiado, pouco a pouco fui enveredando pelo caminho da harmonia,
do contraponto e da regência, sobretudo depois que ingressei no FACMADRIGAL, sob a direção do
maestro Antônio Sérgio Telles, e no De Repente Canto, conduzido por Fernando Rangel.
Quando Luceni Caetano chegou para substituir
Fernando Farias, o Pintassilgo, descobri a flauta transversa, que também me deixou
fascinado. Porque eu não possuía o instrumento, tive certa dificuldade no
início dos estudos nessa área. Contudo, como a nova professora havia adquirido
uma Muramatsu prateada recentemente, vendo
o meu interesse, vendeu-me sua antiga Armstrong,
repleta de histórias e com o qual fizera a caminhada artística-acadêmica até
aquele ponto. Isso facilitou a minha vida enormemente. A fim de pagar o débito,
fiz campanhas, recebi ajuda da família e dos amigos, toquei em bares, acompanhando Gera Brito, Emerson Uray e tantos outros.
Em meus gestos havia certa pressa, mas eu não
estava afobado, pois sabia que era necessário deixar o tempo agir, construindo o
que, de fato, já era latente e estaria para sempre comigo: o meu amor pela
música. Luceni parecia compreender tudo aquilo e, muito mais que uma
professora, foi determinante nessa travessia entre a flauta doce e a transversa,
Campina Grande e João Pessoa, a extensão e a graduação, a minha casa e o mundo,
abrindo portas, estimulando-me na busca pela excelência, como assim procedem os
mestres, mentores, guias e anjos!
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
domingo, 13 de outubro de 2019
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Quem sou eu

- Vladimir Silva
- Sou paraibano, natural de Campina Grande. Fui seduzido pela arte, pela música e pela literatura há muito tempo. Atualmente, leciono nos cursos de graduação e pós-graduação em Música da UFCG e da UFPB. Sempre estou aqui e acolá, regendo e cantando, ensinando e aprendendo, ouvindo e contando histórias. Meu perfil profissional completo pode ser acessado na Plataforma Lattes (CNPq): http://lattes.cnpq.br/5912072788725094
4 comentários:
O senhor é um grande educador, sou grata a Deus por ter tido o privilégio de ser sua aluna. Um mestre querido
Meu querido Vladimir! Vi hoje sua linda postagem, que me emocionou bastante, e porque não dizer que desabei em lágrimas de emoção. Sou grata por você ter sido meu aluno, pelas suas palavras e pela sua amizade. E exaltar esse seu gesto de reconhecimento para os professores que realmente foram importantes, no seu início de aprendizado musical. Apenas pessoas generosas, sensatas e sensíveis, não se importam de fazer homenagem, de se alegrar e ver uma momentânea felicidade dada por reconhecimento. Me encho de alegria e orgulho de ver que se tornou um grande homem, músico e professor.
Um grande abraço da sua antiga professora,
Luceni Caetano.
Querida Luceni, você é parte dessa história, razão pela qual palavras não são suficientes para descrever minha gratidão. Que possamos continuar essa caminhada com muita paz, beleza e música. Felicidades, professora.
Canto Lírico, eu que agradeço a oportunidade de conhecê-la e ter sido seu professor. Abraço.
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