domingo, 13 de outubro de 2019

Mestres, mentores, guias e anjos!

Comecei a frequentar os cursos de extensão do Departamento de Artes da UFPB, Campus II, em 1984, nas dependências do Teatro Municipal Severino Cabral. Ali, além de estudar de forma sistemática, conheci aqueles que foram as bases do meu fazer musical: Carlos Alan (Flauta Doce), Fernando Rangel (Teoria e Solfejo) e Fernando Barbosa (História da Música). Semanalmente, tínhamos dois encontros nos quais ocorriam as aulas de instrumento, matérias teóricas e prática de conjunto, atividade que congregava todos os alunos, muitos dos quais são meus amigos até hoje.

Eu estava tão motivado que, já no primeiro ano do curso, aprendi a tocar as flautas sopranino, soprano, contralto, tenor e baixo, razão pela qual fui convidado para participar de um quarteto, que ensaiava regularmente. Naqueles encontros, em que não víamos a hora passar, na companhia do meu professor, Romero Damião, Francisco Metri e Marconi Siqueira, executávamos os cadernos com peças polifônicas editadas por Pierre Phalèse, Pierre Attaingnant e muita música brasileira, heranças do repertório do Cordas e Sopros. A sonoridade modal e contrapontística me invadia, me transportava para uma época-lugar que eu ainda não (re)conhecera mas que me era profundamente íntima, que me falava diretamente à mente, ao corpo, ao coração. Essa relação com o mundo renascentista acentuou-se à medida em que passei a cantar o repertório francês do século dezesseis. Extasiado, pouco a pouco fui enveredando pelo caminho da harmonia, do contraponto e da regência, sobretudo depois que ingressei no FACMADRIGAL, sob a direção do maestro Antônio Sérgio Telles, e no 
De Repente Canto, conduzido por Fernando Rangel.

Quando Luceni Caetano chegou para substituir Fernando Farias, o Pintassilgo, descobri a flauta transversa, que também me deixou fascinado. Porque eu não possuía o instrumento, tive certa dificuldade no início dos estudos nessa área. Contudo, como a nova professora havia adquirido uma Muramatsu prateada recentemente, vendo o meu interesse, vendeu-me sua antiga Armstrong, repleta de histórias e com o qual fizera a caminhada artística-acadêmica até aquele ponto. Isso facilitou a minha vida enormemente. A fim de pagar o débito, fiz campanhas, recebi ajuda da família e dos amigos, toquei em bares, acompanhando Gera Brito, Emerson Uray e tantos outros.


Em meus gestos havia certa pressa, mas eu não estava afobado, pois sabia que era necessário deixar o tempo agir, construindo o que, de fato, já era latente e estaria para sempre comigo: o meu amor pela música. Luceni parecia compreender tudo aquilo e, muito mais que uma professora, foi determinante nessa travessia entre a flauta doce e a transversa, Campina Grande e João Pessoa, a extensão e a graduação, a minha casa e o mundo, abrindo portas, estimulando-me na busca pela excelência, como assim procedem os mestres, mentores, guias e anjos!


Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

4 comentários:

O canto lírico disse...

O senhor é um grande educador, sou grata a Deus por ter tido o privilégio de ser sua aluna. Um mestre querido

Luceni Caetano disse...

Meu querido Vladimir! Vi hoje sua linda postagem, que me emocionou bastante, e porque não dizer que desabei em lágrimas de emoção. Sou grata por você ter sido meu aluno, pelas suas palavras e pela sua amizade. E exaltar esse seu gesto de reconhecimento para os professores que realmente foram importantes, no seu início de aprendizado musical. Apenas pessoas generosas, sensatas e sensíveis, não se importam de fazer homenagem, de se alegrar e ver uma momentânea felicidade dada por reconhecimento. Me encho de alegria e orgulho de ver que se tornou um grande homem, músico e professor.
Um grande abraço da sua antiga professora,
Luceni Caetano.

Vladimir Silva disse...

Querida Luceni, você é parte dessa história, razão pela qual palavras não são suficientes para descrever minha gratidão. Que possamos continuar essa caminhada com muita paz, beleza e música. Felicidades, professora.

Vladimir Silva disse...

Canto Lírico, eu que agradeço a oportunidade de conhecê-la e ter sido seu professor. Abraço.

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