sábado, 8 de setembro de 2018

Coral do Amazonas

Durante a minha estadia em Manaus, além de participar do Congresso da ANPPOM, trabalhei com o Coral do Amazonas, grupo oficial do estado e que é formado por 64 cantores. A trajetória do coro, que já foi regido por maestros brasileiros e estrangeiros, a exemplo de Zacarias Fernandes, é repleta de grandes realizações, dentre as quais se destaca a participação em mais de trinta montagens do Festival Amazonas de Ópera.

Os ensaios do ensemble, realizados de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30, ocorrem num prédio suntuoso, o Centro Cultural Palácio da Justiça, localizado no coração da capital, por trás do imponente teatro. O dia-a-dia começa com a organização do espaço, sob a supervisão de Cacilmara Pinto. Em seguida, o renomado tenor Juremir Vieira conduz a preparação corporal e vocal. O maestro titular, Otávio Simões, conta com o auxílio do regente assistente, Fabiano Cardoso, e do pianista Renan Branco.

Para esta experiência, selecionei peças de compositores paraibanos, aqui nascidos ou radicados, englobando música sacra e profana, nomes consagrados e em ascensão, composições a cappella e com acompanhamento. A Missa Brevis N° 2 (Reginaldo Carvalho, 1932-2013), escrita em 1954 e que contém apenas Kyrie e Gloria, foi interpretada integralmente pela primeira vez, porque o manuscrito do Gloria só fora descoberto e editado recentemente. O ineditismo do momento potencializou os aspectos emocionais da nossa performance, visto que o aniversário natalício do compositor ocorrera naquela semana. No campo sacro, apresentamos também Padre Nuestro (Eli-Eri Moura, n. 1965) e Santo! Santo! Santo! (Samuel Cavalcanti, n. 1982). Na parte secular, começamos com Madrigal (José Siqueira, 1907-1985), uma livre adaptação que fiz, preservando a parte original do piano. Do manauara Pedro Santos (1932-1986), que viveu muitos anos em João Pessoa, cantamos Tema para assovio, que integra a trilha sonora do filme Romeiros da Guia, uma produção de 1962 e que tem a assinatura do cineasta Wladimir de Carvalho. Além da Cantiga (Manuel Bandeira e Reginaldo Carvalho), inseri minha Guajira espúria, baseada num tema recolhido por Mário de Andrade em suas andanças pelo Nordeste. Encerramos com Vamo vadiá (José Alberto Kaplan, 1935-2009), um coco animado e cheio de malícia. Deliberadamente, todas as peças da segunda seção, de algum modo, faziam referência à água, unificando, dessa maneira, arte, natureza e vida, elementos tão abundantes naquela região.

A minha curta temporada com esse seleto conjunto profissional foi espetacular. O grupo, muito receptivo e aberto, encarou os desafios musicais e vocais com grande habilidade técnica e artística, ao longo dos ensaios e no recital, ampliando o seu repertório. Por sua estrutura, proposta e qualidade, esse coro é uma referência no cenário brasileiro, razão pela qual sinto-me honrado e feliz por ter tido essa oportunidade única. Parabéns e muito obrigado, Coral do Amazonas.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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