Ontem, meu filho completou
dezesseis anos. Como de costume, falamos sobre a vida e as expectativas para esse
novo ciclo. Disse-lhe que, com esta idade, eu tive a primeira experiência como
regente, dirigindo o Coral Viva Voz, que ensaiava no Centro Cultural, nos
arredores do Parque do Povo. Com aquele grupo, iniciei a minha carreira e
também selei a amizade com pessoas queridíssimas, que ainda hoje me encantam, a
exemplo das irmãs Magnólia e Socorro França, Jaciara Almeida, Thúlio Antunes, Djailton
Carvalho, Carlos Araújo, dentre tantos outros.
Carlos Araújo, naquela época, trabalhava nas
indústrias São Braz. Além de cantar, também desenhava e representava. Quando
imitava Carlitos, o célebre personagem de Charlie Chaplin, arrancava risos de
todos. Muito ligado à Igreja Católica, ordenou-se sacerdote há alguns anos,
tendo atuado em várias paróquias da Serra da Borborema. Padre Carlinhos, como é
mais conhecido, é profundamente carismático e atualmente é o pároco da Sagrada
Família, no bairro das Malvinas. Ocasionalmente, o Universo nos coloca lado a
lado. Quando isso ocorre, a conversa é animada, intensa, como aconteceu nas
bodas de ouro dos meus pais e, mais recentemente, hoje, pela manhã.
Quando nos encontramos, na escola onde meus filhos estudam e da qual ele é o Capelão, compartilhamos um pouco sobre nossas
missões, as provações que enfrentamos, as conquistas que testemunhamos. Falamos
sobre a egrégora, “essa força espiritual criada a partir da soma de energias
coletivas”. Inspirados, parafraseamos simultaneamente um pequeno trecho do Evangelho
de Mateus: “onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Sorrindo, reiteramos a necessidade constante de renovarmos a esperança
e a utopia em nós mesmos e naqueles com os quais convivemos e trabalhamos. Então,
recorremos ao evangelista, novamente, certos de que “a boca fala do que está cheio o coração”. Por isso, é preciso ter cuidado com a palavra, sobretudo aquela que
provém do peito e povoa o mundo.
Antes de partir, o sacerdote me falou que, em
suas missas, após a comunhão, ele reduz as luzes do templo para que todos
fiquem em silêncio, meditando e cantando em bocca
chiusa. Disse-me que, nesse momento, rege a congregação, movimentando-se
tal qual eu fazia nos anos do Viva Voz, afirmando que a comunidade reconhece a veracidade
das suas intenções, a vitalidade dos seus gestos, o entusiasmo da sua liderança.
Repentinamente, lembrei-me que, na passagem do seu aniversário, dissera a Vinicius que é preciso foco, vigor e verdade para conduzirmos e concretizarmos os nossos
projetos, seja no plano profissional ou pessoal, no palco ou no altar. Com o
espírito em chamas, e sob a luz pastel da morna manhã outonal, eu e Padre
Carlinhos nos despedimos, sussurrando, um no ouvido do outro, Deus o abençoe!
3 comentários:
Parabéns, Vini. Deus te abençoe. Obrigada, Vladimir. Por tudo. E por uma parte de minha história.
Oi, Marcília. Obrigado por ler e comentar. Ainda temos tantas histórias para contar, não é? Eu que te agradeço por ser parte da minha trajetória. Abraços para os três.
Deus o abençoe!
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