domingo, 30 de julho de 2017

Utopia e ousadia

O 11th World Symposium on Choral Music (WSCM), promovido pela International Federation for Choral Music (IFCM), aconteceu em Barcelona. Nesta edição, participaram grupos convidados e selecionados dos cinco continentes, que interpretaram repertórios variados, incluindo obras de referência da literatura, assim como novas composições encomendadas especialmente para o evento.

Muito embora todos os coros participantes tenham apresentado elevado grau técnico e artístico, alguns se destacaram. O Ansan City Choir, da Coreia, regido pelo Dr. Shin-Shwa Park, por exemplo, além do domínio músico-vocal, ensinou-nos sobre a conexão entre corpo-movimento-som. O concerto na Sagrada Família, e do qual participaram mais de duzentos cantores da Catalunha, foi todo dedicado à música sacra da região, incluindo obras da Idade Média aos dias atuais. A culminância foi ouvir Nigra Sum, de Pablo Casals, que acompanhou parte da construção daquele templo e escreveu este moteto em homenagem à Virgem Negra de Montserrat. Foi uma experiência única, mística e musical, que nos enlevou, um verdadeiro bálsamo para os ouvidos e o coração.

O WSCM também ofereceu uma programação acadêmica. A conferência da professora Sharon Paul, intitulada Regendo com o cérebro: técnicas para aumentar a capacidade de engajamento dos cantores, foi uma das mais concorridas, reiterando a correlação entre autonomia e interdependência na prática coral. A música brasileira também esteve nas discussões. Enquanto Isak Lucena, da Universidade Potiguar, fez uma retrospectiva da nossa tradição coral do período colonial até os dias atuais, destacando autores e obras, eu me detive no século XX, mais particularmente no trabalho do compositor Reginaldo Carvalho. Em minha comunicação, destaquei os momentos mais importantes da trajetória deste paraibano, falando do seu estilo composicional, analisando pequenos trechos de suas obras, usando como exemplo as interpretações do Coro de Câmara de Campina Grande, gravadas recentemente em Nova Iorque. Houve, ainda, uma palestra dedicada às composições para vozes femininas, de Heitor Villa-Lobos, fruto das pesquisas de Elian Hingrid Kujawinski.

A décima primeira edição do WSCM nos fez refletir sobre muitos aspectos da nossa práxis. Precisamos intensificar as ações formativas, tanto sob a perspectiva do regente quanto dos coralistas. Ao mesmo tempo, temos que organizar o movimento no âmbito nacional, agregando o maior número de coros possível, a exemplo do que já fazem tantas associações e federações, dentre as quais a ACDA e a ADICORA. Sem tal organismo, nossa inserção no panorama internacional e em eventos deste porte será limitada, fruto de iniciativas pessoais e não de um todo organizado e legitimado por seus pares e a sociedade. A estrada é longa e repleta de curvas. Continuemos a caminhada, alimentando as utopias, sem esquecer, é claro, da ousadia.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

Um comentário:

Isak Lucena disse...

Excelente texto Vladimir. Parabéns pela sua apresentação, e obrigado pela referência. Sucesso pra você!

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