Durante o processo de produção deste concerto, discutimos o repertório,
selecionamos os grupos participantes e também a logística do evento. Por conta
da relevância da proposta, decidi inserir no programa uma obra brasileira. Foi aí que
surgiu a ideia da Missa de Alcaçus, de Danilo Guanais, paulista radicado no Rio
Grande do Norte há vários anos. Escrita originalmente em 1996 para celebrar os trinta
anos do Madrigal da UFRN, desde a estreia na capital potiguar, sob o comando do
maestro André Oliveira, a missa já foi interpretada em diferentes
partes do Brasil e no exterior. Eu mesmo já tive a oportunidade de regê-la duas vezes.
Convidei Danilo Guanais para fazer parte do projeto,
provocando-o a reescrever a referida composição. Sugeri que nessa nova versão, que
celebra os vinte anos do seu lançamento, ele tornasse a obra ainda mais
atrativa e acessível. E assim ele procedeu, preservando o texto em latim e os
ritmos de dança do Nordeste do Brasil, substituindo a parte do violão e da orquestra
de cordas por um piano. Na estreia, contaremos com a participação de quase
setenta cantores oriundos do Brasil, da França e dos Estados Unidos. O Coro de
Câmara de Campina Grande abraçou o projeto sem hesitação, assim como o Tutti
Choir BSB, sob a direção de Daniel Moraes, e o Loiret’s Singers, da França, sob
a liderança de Julie Cássia Cavalcante. Regiane Yamaguchi, que integra o quadro
docente da Universidade Federal de Campina Grande, será a pianista. O compositor também estará conosco em Nova Iorque, proferindo palestra sobre a música
brasileira, acompanhando os ensaios e a performance, testemunhando esse momento
ímpar das nossas trajetórias.
Estrear a Missa de Alcaçus, no Carnegie Hall, é celebrar
a arte armorial, da qual Danilo Guanais é um dos seus representantes
na contemporaneidade. Certamente, o aroma do Nordeste invadirá as ruas de
Manhattan e por entre seus arranha-céus ecoarão as vozes e os romances da
região de Alcaçus, coletados por Deífilo Gurgel e ressignificados nesta peça, bem como os gestos políticos e poéticos de Ariano Suassuna,
que, diga-se de passagem, nunca pediu a bênção ao Tio Sam. Nesta reta final, lembrei-me de Gilberto Gil falando sobre o cosmopolitismo de Campina Grande e Nova Iorque (veja o vídeo) e fiquei pensando que se, algum dia, me perguntarem como tudo isso aconteceu, talvez, tal
qual Chicó no Auto da Compadecida, eu diga, entre o riso e o espanto,
a fé e a descrença: “Não sei, só sei que foi assim!”
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
8 comentários:
Professor Wladimir! Você até pode não saber explicar, mas, a garra e a vontade de fazer o excelente sempre e em qualquer lugar lhe faz chegar aonde sonhas e muito mais! Parabéns pelo empenho, é uma honra te ter como professor. Brilhe, brilhe e que Deus te conceda toda força necessária.
E se eu conseguir ir, como tou fazendo de um tudo para tal, eu que fico pensando sobre a grandeza de participar de uma vivência dessa....Amém....E sorte, meu caro.
Nossa Vladimir! E eu sempre me metendo nas tuas aventuras!! ADORO! Ver a francesada cantado "armorial" em NY, so você poderia nos levar a esta situação! Este video de Gilberto Gil, que ja cantou nesta mesma sala do Carnegie, até parece uma profecia. Minha mãe querida era paraibana ... este projeto entrelaça tantos horizontes! Vamos em fernte!
Amigo querido Vladimir, bom terminar rindo com suas palavras. Escrevo de Natal-RN vale ressaltar, onde estou a trabalho. Feliz de acompanhar tua trajetória, desde cantar ao teu lado até este dia marcante em tua vida. Respira fundo, solta o ar bem devagar, viva e desfrute tudo intensamente como mereces. Grande abraço Amigo!
Marcília, será um grande prazer contar com você e Jean nesse projeto. Será uma aventura inesquecível. Abraço
Oi, Julie. Que bom que você aceitou o desafio. Que maravilha ver os seus alunos, nossos amigos franceses expandindo os horizontes, cantando música brasileira, conhecendo um pouco mais da nossa cultura. Nova Iorque, Campina Grande, Alcaçus, Gien, Olivet, Ariano Suassuna, Danilo Guanais, eu, você, sua mãe, nós todos, nossas memórias, a vida em abundância. Obrigado por tudo. Abraço
Oi, João. Que massa que pudemos cantar e contar histórias juntos. Bom demais saber-viver tudo isso. Abraço.
Maestro Vladimir Silva, tenho como momento singular de cultura nordestina, notadamente para os brasileiros residentes em NY. O concerto programado para o Carnegie Hall. Será mais uma vez o Nordeste acontecendo na terra do Tio San. GILBERTO OLIVEIRA.
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