Encerramos, no último sábado, 12 de setembro, a temporada de
concertos do projeto SESC Partituras, que este ano, na Paraíba, homenageou Reginaldo Carvalho. Ao todo, realizamos três récitas, sendo uma
na Sala Radegundis Feitosa, na UFPB, em abril; outra em Campina Grande, em julho, durante o Festival Internacional de Música; e a derradeira, em Guarabira, brejo
paraibano, terra natal do referido compositor. Este concerto final, apresentado pelo Coro de Câmara de Campina Grande, foi todo dedicado à música coral,
incluindo obras sacras e seculares, bem como arranjos escritos por Reginaldo
Carvalho em diferentes momentos da sua atuação como compositor e regente.
Dentre as peças sacras, interpretamos o Kyrie,
da Missa Breve Nº 2, em Dó menor, para coro misto a cappella, escrita em Paris, em 1954, e dedicada ao Frei
Adriano Hypólito, um dos seus professores no Convento Ipuarana, em Lagoa Seca,
no início da década de quarenta. É importante observar que a missa está
incompleta e até o momento só foram encontradas duas partes, o Kyrie e o Glória. Merece destaque também a estreia do Bendito de São Benedito, moteto cuja melodia foi coletada na cidade
de Mulungu, nas proximidades de Guarabira.
A plateia reagiu positivamente e teve a oportunidade de conhecer
detalhes da vida e da música de Reginaldo Carvalho. Ao término da apresentação, relatos variados do público. Para muitos, aquele foi o primeiro contato com o compositor. Um dos espectadores, habitante da
localidade, desculpou-se por desconhecer um guarabirense tão ilustre. Naquele
instante, percebemos, novamente, que o trabalho investigativo e artístico que desenvolvemos na Universidade Federal de Campina Grande ultrapassava os limites da academia, colaborando para a preservação da nossa
memória e da história da música brasileira.
Representantes do poder público municipal estavam presentes
e falaram dos projetos em andamento, no âmbito da Secretaria de Cultura, e que
têm como objetivo divulgar a produção do maestro. Em breve, Guarabira terá um museu
e nele haverá um espaço especial para Reginaldo Carvalho.
Naire Vilar, filha do homenageado, prestigiou o evento e aproveitou a
oportunidade para conhecer a cidade, visitando os lugares onde viveram seus
antepassados e por onde provavelmente seu pai andou, brincou e ouviu muitas das
melodias que serviram de base para seu processo criativo. No roteiro, ela
percorreu a região na qual estava localizada a Fazenda Cachoeira dos Guedes,
um dos redutos familiares.
No retorno, sentindo o vento na subida da Serra, meu pensamento voava enquanto eu folheava o
livro Guarabira: nos passos de uma
criança, escrito por Gilberto Vilar, irmão de Reginaldo Carvalho. A cada
curva, mais revelações, outros mistérios por desvendar, inspirado pelo
pensamento de L. Tolstoi, que assim diz: “Se queres ser universal, canta primeiro
a tua aldeia.” Continuemos, portanto.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
8 comentários:
Ótimo texto Vladimir.
Bravo maestro.
Viva Reginaldo Carvalho!
Cantemos (a sua obra e a nossa aldeia).
Malu Mestrinho, sim, como você bem diz, cantemos! Abraço.
Ótimo texto ! Cantemos!
Obrigado, Paulo César.
Grato, Adriano. Abraço.
Se tem um fenômeno que eu acho um tanto curioso na nossa região é o fato de que para um artista local ser respeitado pelo público conterrâneo tem ele de ser primeiramente aceito pelo público de fora. Assim ocorreu com Chico César e Shaolin, por exemplo. Lembro de Caymmi, no seu clássico "João Valentão" dizendo..."E assim adormece esse homem que nunca precisa dormir pra sonhar, porque não há sonho mais lindo do que sua terra, não há"...
Excellent votre texte mon cher Vladimir!! Mas como é dificil levar a cultura da "nossa aldeia"em outros territorios! Vamos indo com alegria pois Viva Reginaldo Carvalho e Viva esse Brasil querido!!
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