Foi durante o congresso da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Música (ANPPOM), realizado na UNESP, em São Paulo, na última
semana de agosto do ano passado, que oficializamos a turnê do Coro de Câmara de
Campina Grande. Juntamente com a professora Julie Cássia Cavalcante, que havia
participado do Festival Internacional de Música de Campina Grande, discutimos e
definimos as estratégias. É certo que um empreendimento dessa natureza exige ousadia
e investimentos dos dois lados. Por isso, ficamos responsáveis pelas
despesas com passaportes, seguros e passagens, enquanto os anfitriões se
encarregaram da hospedagem, alimentação e transporte local.
No Brasil, nossas propostas não ecoaram nos gabinetes
superiores. Não obstante, seguimos adiante, resolutos. Gradualmente, alçamos
degraus. Para custear todo o investimento, contamos com o apoio de diversas
pessoas, instituições e empresas de Campina Grande e de Teresina, no Piauí. Arregaçamos
as mangas. Coletamos roupas, utensílios e objetos para vendê-los em brechós, nas
feiras livres. Alguns se valeram do velho e conhecido livro de ouro. Outros recorreram
aos empréstimos bancários. Vários cantores arcaram com suas próprias passagens
e também contaram com a ajuda dos familiares. O processo foi bastante
complicado por conta da crise econômica, pois a oscilação do dólar, nesse
período, alterou consideravelmente o preço das passagens.
Enquanto lutávamos para conseguir os recursos, na França
todos se preparavam, dividindo os locais onde ficaríamos hospedados, fazendo um
planejamento detalhado, incluindo atividades educativas, artísticas, sociais e
culturais. Professores e alunos do Conservatório de Olivet e da Escola de
Música de Gien se engajaram nesse projeto, sob a liderança de Julie Cássia e Olivier Petit. Várias vezes, por telefone, buscamos soluções
para situações inesperadas, fazendo os ajustes necessários.
Na mala, além dos agasalhos, presentes para os anfitriões,
dentre os quais cachaça, rapadura, cuscuz, massa de tapioca e produtos
artesanais paraibanos. No que diz respeito ao repertório, apresentamos um pouco
da nossa diversidade, interpretando obras sacras e seculares do período
colonial aos dias de hoje, destacando, sobretudo, os compositores da região. A proposta
de promover um grande encontro entre culturas, explorando outros aspectos além
dos musicais, foi extremamente positiva e enriqueceu o intercâmbio. Após uma
semana de convívio intenso, aprendemos sobre a história da França, seus
símbolos, valores, tradições, língua e, naturalmente, a culinária, tão rica em
sabores, aromas, cores e texturas. A recíproca foi verdadeira e eles também aprenderam
muito sobre nosso país. Conforme destacado na reportagem publicada no jornal da
cidade de Gien, no dia seguinte à nossa apresentação, o Brasil é muito mais que
futebol e carnaval. Em outros termos, poderíamos acrescentar: Campina Grande não
é só festa junina e a UFCG, além dos cursos de engenharia, tem
muito o que mostrar ao mundo.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
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