segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Refletor

O Refletor, de José Alberto Kaplan, é uma ópera de câmara para solistas, coro e piano, composta entre dezembro de 1987 e junho de 1988, baseada na peça Lux in Tenebris, escrita em 1919 por Bertolt Brecht. Além dos protagonistas, João (tenor) e a Cafetina (soprano), integram o elenco uma Mulher (soprano), a Repórter (mezzo-soprano), o Ajudante (barítono), um Homem (baixo), o Capelão (baixo) e o coro misto e o de vozes femininas. A estreia ocorreu no Teatro Guaíra, em Curitiba, Paraná, no dia 16 de agosto de 1988, tendo sido apresentada posteriormente no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, no dia 23 de agosto do mesmo ano.

A ópera, divida em três quadros, é ambientada na zona do meretrício. No primeiro quadro, João convida a população para assistir à sua palestra, na qual serão tratados os problemas decorrentes da prostituição, a exemplo das doenças sexualmente transmissíveis. No segundo quadro, a Cafetina fala com João e pede-lhe desculpas por um pequeno mal-entendido ocorrido, anos atrás, quando João, confundido com um baderneiro, fora expulso do bordel. Ele parece aceitar as desculpas da Cafetina, alegando que não guardava rancor. O último quadro inicia com João, que está preocupado com a calmaria da rua, antes tão agitada, e o pouco movimento nos bordeis, que estavam em falência em virtude da luz que ele trouxera àquela região. A Cafetina entra em cena e inicia um longo diálogo com João, mostrando-lhe que os negócios que eles dois gerenciam são, na verdade, as duas faces de uma mesma moeda. O embate entre João e a Cafetina ganha força quando ela diz que João, agindo daquela forma, vai acabar com o bordel e também por fim ao seu negócio de Profeta de Israel. A Cafetina propõe uma parceria e convence João, afirmando que todos os problemas do passado já foram superados.

O Refletor é uma ópera intertextual. Kaplan cita trechos conhecidos de várias obras, dentre as quais Carmem (Bizet), Pompa e Circunstância (Elgar), a Marcha Fúnebre (Chopin), bem como o hino da revolução francesa. Todos esses elementos reforçam o caráter irônico e crítico do enredo, provocando o riso incômodo. A catarse brechtiana evidencia os conflitos éticos e morais da vida social, sobretudo quando o foco são os interesses pessoais, o dinheiro, a religião, o sexo e o poder.

Os resultados da pesquisa inicial sobre essa obra, ainda pouco conhecida do público brasileiro, foram apresentados no XXIV Congresso da ANPPOM sob o título Riso e estranhamento na ópera O Refletor, de José Alberto Kaplan. Recentemente, interpretamos alguns trechos na série de Concertos SESC Partituras (assista ao vídeoveja a partitura). Nossa meta é apresentá-la integralmente, divulgando a nossa produção operística.


Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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