segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Cantata do Sol e da Lua

A Cantata do Sol e da Lua é um cordel baseado nas escrituras sagradas e narra a trajetória de Jesus. O texto está dividido em cinco partes, incluindo a anunciação à Maria, o nascimento na estrebaria, a visita dos três reis magos, a fuga para o Egito, as ações de Cristo na Galileia.

As músicas, compostas de forma independente e em períodos distintos, foram concebidas originalmente para coro infantil, em uníssono, com acompanhamento harmônico. Motivado pelos desafios da diretora da escola na qual meu filhos estudavam, comecei a compor canções para os projetos de Natal daquele educandário, sempre numa perspectiva lúdica e didático-pedagógica, explorando variados elementos musicais. Por isso, algumas canções são modais (Maria é a mãe de Jesus de Nazaré e O bercinho) e evocam a ambiência melódico-harmônica do Nordeste, bem como os seus ritmos mais comuns, a exemplo do xote (O burrinho) e do baião (Belém, Belém, blem, blem). Três reizinhos é uma canção pentatônica, enquanto Noite de amor é uma valsa com harmonia jazzística. Jesus nasceu, peça que inaugura o ciclo, é baseada no tema da ária Qui sedes ad dexteram patris, da Missa em Si Menor, de Johann Sebastian Bach. Todas as canções apresentam cômodo âmbito vocal e podem ser transpostas, adequando-se à realidade vocal dos intérpretes, sejam solistas-atores ou um grupo de cantores. Muito embora concebidas para vozes infantis, as obras podem ser interpretadas por adultos, tanto na versão original quanto na versão polifônica, essa última escrita para duas e três vozes com instrumentos (flauta, clarinete, saxofone e percussão).

Ano passado, resolvi agrupar as canções e escrever um texto para unificar a obra, dando origem, assim, a Cantata do Sol e da Lua. Para a montagem inicial, convidei o Grupo Teatro Bodega, que tem se dedicado ao trabalho de contação de histórias, misturando teatro tradicional e de rua com a linguagem dos clowns. As duas atrizes que interpretam o Sol e a Lua recitam, dançam, pulam, correm e interagem com músicos e plateia, criando uma ambiência lírica e ao mesmo tempo recheada de bom humor e irreverência. Além das músicas originais, a trilha incidental inclui temas do pastoril extraídos do Cancioneiro Paraibano. 

Neste espetáculo, o Sol e a Lua recontam a história de Jesus, falando sobre guerra e paz, realidade e utopia, combinando elementos sagrados e seculares, tradicionais e modernos, universais e regionais. A narrativa é dinâmica e as passagens bíblicas são o ponto de partida para reflexões sobre corrupção, consumismo e preconceito. A desafiadora tarefa de falar sobre esse tema fez brotar, ao longo dos séculos, obras variadas, algumas complexas, outras simples, como esta cantata, um jogo dramático vivido intensamente pelos  intérpretes, neste caso o Grupo Teatro Bodega e o Coro de Câmara de Campina Grande.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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