As
músicas, compostas de forma independente e em períodos distintos, foram concebidas
originalmente para coro infantil, em uníssono, com acompanhamento harmônico. Motivado
pelos desafios da diretora da escola na qual meu filhos estudavam, comecei a compor
canções para os projetos de Natal daquele educandário, sempre numa perspectiva
lúdica e didático-pedagógica, explorando variados elementos musicais. Por
isso, algumas canções são modais (Maria é
a mãe de Jesus de Nazaré e O bercinho)
e evocam a ambiência melódico-harmônica do Nordeste, bem como os seus ritmos
mais comuns, a exemplo do xote (O
burrinho) e do baião (Belém, Belém,
blem, blem). Três reizinhos é uma
canção pentatônica, enquanto Noite de
amor é uma valsa com harmonia jazzística. Jesus nasceu, peça que inaugura o ciclo, é baseada no tema da
ária Qui sedes ad dexteram patris, da
Missa em Si Menor, de Johann
Sebastian Bach. Todas as canções apresentam cômodo âmbito vocal e podem
ser transpostas, adequando-se à realidade vocal dos intérpretes, sejam solistas-atores
ou um grupo de cantores. Muito embora concebidas para vozes infantis, as obras
podem ser interpretadas por adultos, tanto na versão original quanto na versão
polifônica, essa última escrita para duas e três vozes com instrumentos (flauta,
clarinete, saxofone e percussão).
Ano passado, resolvi agrupar as canções e escrever um texto para unificar a obra, dando origem, assim, a Cantata do Sol e da Lua.
Para a montagem inicial, convidei o Grupo Teatro Bodega, que tem se dedicado ao
trabalho de contação de histórias, misturando teatro tradicional
e de rua com a linguagem dos clowns.
As duas atrizes que interpretam o Sol e a Lua recitam, dançam, pulam, correm e
interagem com músicos e plateia, criando uma ambiência lírica e ao mesmo tempo
recheada de bom humor e irreverência. Além das músicas originais, a trilha incidental inclui temas do pastoril extraídos do Cancioneiro Paraibano.
Neste
espetáculo, o Sol e a Lua recontam a história de Jesus, falando sobre guerra e paz,
realidade e utopia, combinando elementos sagrados e seculares, tradicionais e modernos,
universais e regionais. A narrativa é dinâmica e as passagens bíblicas são o ponto
de partida para reflexões sobre corrupção, consumismo e preconceito.
A desafiadora tarefa de falar sobre esse tema fez brotar, ao
longo dos séculos, obras variadas, algumas complexas, outras simples, como esta
cantata, um jogo dramático vivido intensamente pelos intérpretes, neste caso o Grupo Teatro Bodega e o Coro de Câmara de Campina
Grande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário