Benedicite,
palavra latina que significa bendizer, é o título de um soneto de Olavo Bilac,
publicado postumamente em 1919. O poema, formado por dois quartetos e dois
tercetos, é um cântico de louvor que exalta os feitios humanos, bem como aquele
que, “no
dó profundo, descobriu a Esperança, a divina mentira, dando ao homem o dom de suportar o mundo!” Utilizei este poema para escrever uma obra para coro
misto a quatro vozes, que foi dedicada ao Dr. Karl Nelson e ao University of
Central Oklahoma Concert Chorale.
A peça dura, aproximadamente,
quatro minutos e está dividida em seis partes. Os fragmentos utilizados na seção
inicial foram extraídos de uma melodia medieval, Benedicamus Domino, inserida no Liber
Usualis. A segunda seção é contrapontística, enquanto a terceira faz referência
à música do Nordeste do Brasil. As melodias modais evocam os violeiros e a
estrutura rítmica faz referência ao baião, uma das danças mais populares da região.
A atmosfera lírica da quarta seção contribui para realçar o clímax do poema, e
as progressões harmônicas da penúltima seção enfatizam o caráter introspectivo
do texto. A obra conclui em clima de festa, combinando voz e percussão.
A composição deve ser interpretada
a cappella. No entanto, entre os
compassos 92 e 110 é possível adicionar percussão, incluindo triângulo, zabumba
e ganzá, utilizados nas danças nordestinas. Neste caso, os instrumentos tocam colla voce (triângulo = alto, ganzá = soprano/tenor e zabumba = baixo). Outra opção é a percussão
corporal. Minha sugestão é que os baixos batam palmas em forma de concha, os
tenores estalem os dedos, os sopranos executem o ritmo com as mãos espalmadas, e
os contraltos façam o mesmo sobre as pernas, as coxas. Para criar variedade, pode-se
executar a primeira vez como está escrito. Em seguida, usar apenas instrumentos
de percussão ou exclusivamente percussão corporal. Finalmente, vozes e
instrumentos podem atuar conjuntamente, avivando o caráter rítmico e dançante da
obra. Os movimentos corporais também podem ser coreografados. Os baixos batem
palmas no peito, do lado do coração; os tenores balançam os braços; os
contraltos dobram seus joelhos, inclinando ligeiramente o tronco para a frente;
sopranos se movimentam como quem toca pratos sinfônicos.
A estreia da obra
aconteceu há poucas semanas, com o University of Central Oklahoma Concert
Chorale, durante uma visita que fiz àquela instituição. Além das palestras e do recital solo, tive a oportunidade de ensaiar e reger o coro, que trabalha sob a
coordenação do maestro Karl Nelson. Esse mesmo grupo, formado por vinte e
quatro cantores, vem para o Brasil com o objetivo de participar do quinto
Festival Internacional de Música de Campina Grande, quando apresentará,
novamente, esta obra em conjunto com o Coro de Câmara de Campina Grande.
Um comentário:
Você é grande, meu amigo. Parabéns pelo texto poético do Ilustre Poeta.
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