quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Folias de Reis

Eu nasci com os primeiros raios de sol do dia seis de janeiro. Meus pais residiam no bairro da Liberdade, numa casa simples, nos arredores da oficina mecânica onde meu pai trabalhava. Como toda família pobre do início da década de setenta, a minha também não estava completamente preparada para me receber. Os recursos financeiros eram escassos e minha mãe não adquiriu um enxoval completo para o meu nascimento. Assim, dormi durante algumas semanas dentro de uma pequena banheira plástica, que também era usada para os meus primeiros banhos.

Seis de janeiro, no calendário litúrgico católico, é dedicado aos Santos Reis, marcando, simbolicamente, o dia em que Jesus Cristo recebeu a visita dos três magos do oriente (Belchior, Gaspar e Baltazar). Como ocorre com a maioria das festas religiosas católicas, esta também caiu no gosto popular brasileiro. Aqui na Paraíba, por exemplo, desde o início do século XX, a cidade de Queimadas é conhecida por seus festejos. É por esta razão que Tia Luísa, com fala trôpega e olhos distantes,
ainda hoje me explica porque não acompanhou o meu nascimento, já que havia passado a noite toda naquela cidade, participando das festividades, ao lado de Dona Júlia e Antônio Grilo.

Mas Tia Lúcia nunca deixou aquele acontecimento familiar passar em branco. Desde então, todo dia seis de janeiro, quando me vê, vai logo entoando os versos do sucesso de Tim Maia, que, à época, ela ouvia animadamente na pequena vitrola vermelha portátil: “Hoje é o dia de santo reis / anda meio esquecido / mas é dia da festa de santo reis / anda meio esquisito / mas é o dia da festa de santo reis...” Esta canção fez parte da trilha sonora dos meus aniversários durante vários anos. No entanto, demorei certo tempo para entender o sentido da celebração da epifania, isto é, a revelação, a manifestação do mistério de Deus.

Desde a minha primeira Festa de Reis, já tive a oportunidade de andar por vários lugares e conhecer muita gente. Nessas andanças, o Criador sempre esteve ao meu lado, em todas as situações, revelando-se de diferentes formas, às vezes nem sempre tão claras, através das inúmeras pessoas que encontrei. Por isso, eu só tenho motivos para agradecer à minha família, esposa e filhos; aos meus mestres, alunos e colegas de trabalho; a todos os amigos, de todos os tempos e partes, de todas as cores e credos, que cruzaram o meu caminho, que ajudaram a construir aquilo que fui, sou e serei. Meu desejo é que juntos possamos continuar, por muitos anos, celebrando outras folias, apresentando e manifestando as faces misteriosa, amorosa, misericordiosa, musical e poética de Deus.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Amigo,
Paz e Bem!

Muitas feliciadades, muitos Dias de Reis!

Luís Sá

Anônimo disse...

As suas palavras ,caro professor,mostram uma parte
da sua essência como ser humano, que eu admiro
muito.
ANA PAULA PEREIRA
CORÔ DE CAMARA DA UFCG

Anônimo disse...

Grande Maestro,
"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." (I Pedro 4.10/Bíblia.)
Parabéns por não cessar de investir nos dons e talentos os mais diversos que DEUS tem te confiado (seja em música, seja em literatura), e por reconhecê-LO em seus caminhos. Saiba que me inspiro em ti como modelo de regente (e no seu manual de conduta "Apontamentos para o próximo ensaio ou programa de proteção ao coração do regente"). Deus permita que seus mais nobres sonhos se realizem!

Adriano Marinho Martins (não ex, mas sim eterno corista do Coro emCanto).

Postar um comentário