O processo de seleção e classificação vocal basicamente envolve duas etapas. Na primeira, realizam-se tarefas que permitem verificar a percepção auditiva, nos seus aspectos rítmicos, melódicos e harmônicos. Na segunda, analisam-se diversos parâmetros, dentre os quais, a extensão, a tessitura e o timbre. Tais elementos devem ser observados em conjunto, pois concebê-los isoladamente não é um procedimento adequado. Utilizar a extensão como único critério de avaliação pode comprometer a análise vocal, porque as vozes tecnicamente limitadas poderão ser classificadas de forma equivocada em virtude das referências associadas a esta ou aquela categoria vocal. Além de observar os limites graves e agudos da voz, a classificação deve ser feita com base no timbre de cada cantor.
A mudança de registro também oferece elementos significativos e, nesse caso, a identificação exata das notas que estabelecem tais fronteiras pode servir como uma referência auxiliar, corroborando com outros parâmetros já analisados. Certamente este é um dos pontos polêmicos na área do canto, pois as opiniões são diversificadas quanto ao significado e quantidade dos registros vocais. Fundamentalmente, o regente deve perceber quando ocorre a transição do registro grave para o médio (primo passaggio) e do médio para o agudo (secondo passaggio), bem como a zona de passagem intermediária entre estes.
O regente, ao apreciar a voz de um cantor, precisa perceber toda a potencialidade latente e antecipar, de certo modo, o vir a ser desta voz, isto é, a forma como se apresentará após o desenvolvimento de um trabalho técnico eficaz. Somente a continuação do trabalho vocal permite confirmar ou não a classificação inicial e, por isso, nenhuma classificação vocal pode estabelecer um veredicto permanente, imutável, pois a voz, ao ser (re)educada, passa por muitas transformações, sendo essencial, nesse caso, não rotulá-la com uma nomenclatura específica, mas guiá-la ao longo de um estudo que favoreça o desenvolvimento máximo sem fadiga. É função do regente e/ou do professor de canto ou técnica vocal acompanhar esse processo, porque uma classificação errada, associada ao uso inadequado numa região que extrapola a tessitura mais cômoda e conveniente, pode estimular e favorecer o surgimento de problemas vocais.
É imprescindível, portanto, observar os procedimentos deste processo e avaliar precisamente a voz de cada cantor, tomando sempre como referência a singularidade que lhe é inerente. Além dos fatores técnicos, é indispensável acrescentar outras informações relativas ao perfil psicológico, social e cultural de cada indivíduo, procurando perceber como ele constrói os seus modelos e a imagem vocal que tem de si mesmo. Sugiro ler também o texto A prática coral LGBTQI+ para ampliar a discussão. O momento no qual o regente seleciona os seus cantores é uma das etapas mais importantes da prática coral, pois é nesta ocasião que é definido o DNA da sonoridade de um grupo.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
domingo, 7 de novembro de 2010
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Quem sou eu

- Vladimir Silva
- Sou paraibano, natural de Campina Grande. Fui seduzido pela arte, pela música e pela literatura há muito tempo. Atualmente, leciono nos cursos de graduação e pós-graduação em Música da UFCG e da UFPB. Sempre estou aqui e acolá, regendo e cantando, ensinando e aprendendo, ouvindo e contando histórias. Meu perfil profissional completo pode ser acessado na Plataforma Lattes (CNPq): http://lattes.cnpq.br/5912072788725094
2 comentários:
Muito bom! Esse é um assunto sempre problemático no estudo do Canto e o texto o aborda de forma suscinta mas correta e bem fundamentada, Parabéns!
Muito bem colocado, concordo plenamente !
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