sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O gesto, o corpo e o som.

A expressão gestual do regente é uma ferramenta importante no processo de interpretação musical e está diretamente ligada à consciência e controle dos movimentos corporais. O desenvolvimento da técnica gestual deve aliar, ao domínio dos gestos padrões, aspectos que traduzam a individualidade do regente sem, contudo, priorizar os últimos em detrimento dos primeiros.

A postura mais adequada à regência deve ser determinada de acordo com o biótipo de cada indivíduo e em consonância com as necessidades da obra interpretada e/ou do grupo dirigido. O regente deve equilibrar-se, mantendo os pés firmes no chão e as pernas levemente afastadas, enquanto os ombros precisam ficar soltos e frouxos, as mãos e os braços penderem livremente para baixo com o antebraço levemente erguido à altura do peito. Apesar da diversidade de orientações em torno das técnicas de regência, pode-se dizer que existem dois princípios gerais que orientam a atividade gestual do regente: o primeiro trata da independência dos braços, ou seja, é importante evitar, na medida do possível, que eles executem simetricamente movimentos idênticos; o segundo faz referência aos movimentos da mão direita (tactus) e da mão esquerda (expressão musical, agógica, dinâmica e/ou fraseológica).

O campo de trabalho do regente pode ser delimitado na região localizada entre o baixo ventre e os olhos. É relevante observar ainda que toda informação musical, seja no começo, no transcurso ou no final da obra, será reforçada por intermédio da conjugação entre gesto e expressão facial, recursos complementares imprescindíveis à concretização das intenções musicais. Para obter o grau de precisão e controle dos movimentos de forma ideal, é imprescindível, então, recorrer sistematicamente à força expressiva do olhar, pois, como Sérgio Magnani observa, os olhos chamam, estimulam, comunicam a cor desejada do som e sublinham os contornos da frase. Além disso, os olhos chamam outros olhos, mantêm desperta a atenção, estabelecem o contato humano e a empatia emocional.

Todo gesto preparatório deve indicar as principais características da composição, o tempo, a intensidade, a articulação, a expressão e o caráter. A intenção é necessária e antecede a criação dos gestos musicais e é por esta razão que o regente deve possuir um domínio soberano da representação mental da partitura, pois só assim será capaz de recriar em sua fantasia a imagem sonora ideal da obra. Neste sentido, Bernadete Zagonel, no livro O que é gesto musical, assegura que, de algum modo, cada partitura escrita necessita de uma partitura gestual que permite o nascimento da obra realizada. Assim, a exteriorização gestual deve ser, portanto, o resultado das representações mentais e da abstração da obra como um todo, e não simplesmente uma ação mecânica e automatizada por meio de padrões estabelecidos.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns professor. Muito esclarecedor!
Germano

Bianca disse...

Vladimir, vou trabalhar com os alunos de regência (escolas estaduais de Goias) esse texto, pois voce conseguiu sintetizar de forma esplêndida alguns pontos importantes para o regente.
Valeu demais!! Sö temos a agradecer pela colaboração com esses textos tão elucidativos e enriquecedores.
Abraços musicais

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